A literatura é feita exclusivamente a partir de livros ou a palavra também pode ter o seu lugar nas redes sociais, no cinema, no teatro e em tantas outras plataformas? Esta é a provocação que a segunda edição do Festival Internacional Literário de Gramado (FiliGram) coloca em debate a partir do tema “Qual o lugar da palavra?”. O evento, que é realizado pela Prefeitura Municipal, acontece de 19 a 28 de abril do ano que vem e tem programação com mesas de debates, sessões de autógrafos, oficinas, painéis e apresentações artísticas.
Para o Secretário de Cultura de Gramado, Ricardo Bertolucci, o desafio é dar continuidade para consolidar o projeto que abriu as portas da cidade para a literatura: “A primeira edição do evento cumpriu seu objetivo para colocar a cidade no calendário de eventos literários do país, mas também para envolver Gramado nesta pauta tão relevante para a cultura e educação. Agora vamos trabalhar para fazer do FiliGram um evento tão importante e significativo da cidade”.
Além da literatura de base clássica, tradicionalmente amparada nos livros, o festival procura abordar cada vez mais os diferentes segmentos e locais em que a palavra aparece, sendo um aspecto importante em diversas áreas. “Este é um ingrediente básico da literatura. Ainda que buscamos destacar o papel essencial do livro em qualquer idade e momento de vida, sabemos que a palavra está também nos textos de redes sociais, no cinema, no teatro, no debate sobre racismo e sustentabilidade e até no storytelling de restaurantes temáticos de Gramado, que contam histórias que engajam e encantam. Isso também cabe no mundo literário”, observa Fernando Gomes, coordenador de conteúdo do FiliGram.
Para explorar este conceito, o festival traz quatro eixos temáticos sobre o lugar da palavra nos campos do cinema, música, sustentabilidade, literatura de viagens, inclusão e educação, todos eles com nomes de grande representatividade em suas áreas.
Em 2022, quando aconteceu a primeira edição, Gramado observou a criação de um evento com a intenção de debater a literatura como instrumento de transformação social. Tal proposta se estabelece ao reunir importantes nomes do cenário mundial e nacional no campo literário em um mesmo local.
Para a formação do corpo de curadores, que iniciou após a definição do tema, a escolha é descrita como de “pessoas muito qualificadas no campo literário e já com o afeto e experiência com o evento”. No âmbito ‘Na música, no cinema e outras linguagens’, os curadores Chris Fuscaldo (jornalista, escritora e pesquisadora musical) e Roger Lerina (jornalista e crítico de cinema) convidam autores, atores, produtores, diretores, músicos, biógrafos e artistas para conversar sobre a relação constante entre o espaço da palavra nas telas, nas páginas e nas artes.
“Queremos explorar as várias e possíveis intersecções entre literatura e outras linguagens. Pretendemos reunir em Gramado nomes da música, do cinema e do audiovisual que promovam de alguma maneira cruzamentos com a literatura e a palavra em seus trabalhos, ou ainda que tenham se aventurado também na escrita. As biografias musicais e as relações entre roteiros e produtos audiovisuais também estão na nossa mira. Esperamos ainda propor discussões sobre fenômenos como as narrativas em podcasts e o sucesso das séries em áudio e vídeo sobre crimes reais”, antecipa Lerina.
A diretora da Associação Negra de Cultura (ANdC) Naiara Silveira, trabalham com o eixo ‘No eco’, ao pensar sobre como uma palavra pode reverberar, expandir e multiplicar nos ambientes ecológico, ambiental, sustentável, acessível e da diversidade, da inclusão e da sociedade.
Literatura de viagem, turismo literário, imigração e refúgios são observadas como uma forma de conhecer culturas, costumes, idiomas e dialetos. O eixo ‘Nas viagens e movimentos’, das curadoras Júlia Dantas, doutora em Escrita Criativa e co-fundadora da Baubo (empresa que auxilia escritoras e escritores), e Ángela Cuartas, escritora e tradutora colombiana, busca estabelecer o vínculo existente entre literatura e deslocamentos.
O último eixo foca em como é possível estimular a leitura e o debate literário no ambiente escolar, seja na educação infantil, juvenil ou na universidade. Margha Anschau (licenciada em Artes Visuais pela UFRGS e pós-graduada em Gestão de Recursos Humanos) e Naiana Amorim (doutora em Estudos da Literatura pela Universidade Federal Fluminense) assumem a curadoria do eixo chamado ‘No ensino’. Além delas, esse recorte do evento terá também a participação de uma comissão liderada pela Secretaria de Cultura de Gramado formada por professores, alunos e colaboradores da área da Educação do município.
“Esperamos que as mesas e oficinas proporcionem momentos de contato com literatura de qualidade, claro, mas que também permitam encontros entre culturas e modo de expressão distintas”, finaliza Julia Dantas, curadora do FiliGram.
Um lugar para a literatura no calendário de Gramado
Confirmado para acontecer em abril de 2024 depois de ter seu projeto recusado pela LIC-RS para realização neste ano, o FiliGram procura espaço no disputado calendário de eventos da cidade. Para Ricardo Bertolucci, a data é uma estratégia também para dar destaque ao festival na agenda nacional de programação do setor, já que a maioria dos eventos literários opta pela segunda metade do ano. “Nosso foco é valorizar a literatura tanto para nossa comunidade como também atrair leitores, profissionais e amantes do livro e leitura para Gramado, promovendo ainda mais o turismo cultural na cidade”, acrescenta.
A primeira edição do FiliGram aconteceu em 2022 e reuniu 20 mil visitantes, com 150 atividades em 10 dias de programação. Agora, o festival busca dar continuidade para consolidá-lo no calendário.
“Desde a primeira edição, o FiliGram mostrou com entusiasmo e competência que a cultura do livro e da literatura representa também uma força que merece ser melhor desenvolvida em Gramado e nas comunidades vizinhas. O público que compareceu à estreia do festival em 2022 aprovou o evento, suas atividades e convidados, demonstrando que gosta de ver a cidade celebrar o universo das letras”, observa Roger Lerina, curador das duas edições do evento.